Um filme dirigido por Murilo Salles com Leandra Leal.
Baseado na obra de Clarah Averbuck.

Matéria de hoje do blog Repique, de Paula Guedes.

Vencedor em Gramado discute formato do cinema




Vencedor do prêmio de Direção de Arte em Gramado, com o filme "Nome Próprio”, Pedro Paulo de Souza, conta aqui para o Repique todas as idéias por trás do conceito, cenário e cores de um filme autoral brasileiro.

Repique - Como foi ganhar esse prêmio em Gramado?
Pedro Paulo de Souza - Foi muito bizarro. Eu fui para Gramado para a abertura do Festival, participei da coletiva de imprensa na segunda-feira, e voltei para São Paulo. No outro sábado, no dia da premiação, resolvi ligar a TV para torcer para a Lelê (Leandra Leal), quando a 1.ª coisa que vejo foi a Rosamaria Murtinho falando “Pedro Paulo por Nome Próprio” – como eu era indicado fiquei esperando ela falar os outros nomes que concorriam, e de repente vi a Leandra Leal levantando da platéia. Caraca, ganhei o prêmio!

Que delícia.

Sim. Fiquei muito feliz. Especialmente porque os prêmios de Arte, Montagem e Música em Gramado são dados por estudantes de Cinema, que são convidados pelo Festival para votarem esses quesitos. Para mim, tem um gosto especial e eu me sinto muito lisonjeado de ter sido escolhido por gente que está brigando por conhecimento, que está tentando entender as coisas de outra forma. Até o ano passado não havia no Festival o prêmio de Direção de Arte, não tinha esse quesito mais técnico.

E o que está por trás da Direção de Arte do “Nome Próprio”?

A gente partiu de um registro quase documental porque o filme precisava ser o mais natural possível. Não podia ser muito detalhista porque daria mais informação do que o público precisaria. Os ícones, a forma de discagem, a estrutura do blog - era necessário que não aparecessem tanto, porque o Nome Próprio de certa forma é um filme de época, se passa em 2001 - e isso quando falamos de blogs e internet é praticamente datado - a maioria das pessoas não tinha banda larga, a internet era discada, os navegadores eram outros, não tinha Google, não tinha Altavista. E precisava ficar claro: “Olha, estamos falando de uma época que não é hoje”.

Por que não hoje?

O filme é baseado nos livros da Clarah Averbuck, que descreve um período em que ela tinha um blog, em 2001, um tempo em que não havia esse boom de blogs, em que o blog era um espaço para se expor, por exemplo, quando ela faz a declaração “esse blog não permite comentários”. Uma época em que ela era muito assediada. Se fosse hoje seria outra coisa.

O filme é cheio de vazios.
O filme tem muito vazio. Os ambientes dela são todos vazios porque precisávamos ressaltar a riqueza do universo interior daquela mulher, para que o público tivesse atenção focada em suas reações. O cenário mudava à revelia do que ela estava pensando. Tivemos o maior cuidado que aquilo fosse realmente um ambiente natural para que o ator se sentisse à vontade. Foi uma preocupação que surgiu durante a preparação de atores em que tive que construir alguns objetos de apego – coisas que pudessem estar na bolsa dela, os discos, livros. Outra preocupação foi criar uma série de estranhezas com relação à própria continuidade do filme - objetos que estão numa cena quando ela sai do quarto e quando volta já não estão mais, roupas... porque a história não é o que está na cabeça dela, o tempo em que ela escreve não é o mesmo em que o internauta lê. Deixamos no set tudo aquilo que é para ser assistido – que é quase nada, porque tudo o que está por perto faz sentido, à meia distância, não – o que possibilitaria termos colocado uma banda lá tocando.

Adorei como os textos aparecem no filme.

Ela conta uma história sobre coisas que estão no seu imaginário. Precisei construir a palavra escrita porque estamos falando de Literatura – eu literalmente precisava colocar palavras na tela, pois o texto dito e o texto lido são diferentes, têm outro tempo.

No fim acabou que “Nome Próprio” é super atual...

“Nome Próprio” também discute formato - o filme não tem película, a captação foi toda direta em HD; discute plataforma de comunicação... foi um filme lançado através de um blog, em que pudemos construir uma conversa e passar adiante a discussão que tivemos. Foi além da projeção na tela e isso tem a ver com internet, linguagem e suporte. Tivemos esse cuidado desde o início.

3 comentários:

Ryane Siqueira disse...

Cheio de vazios e ao mesmo tempo tão tão tão cheio.
Se Murillo, Pedro e todos os outros queriam abrir mais espaço pras palavras no cinema brasileiro, conseguiram.

' As palavras ficam para sempre no universo '

Rafa disse...

"...se passa em 2001 - e isso quando falamos de blogs e internet é praticamente datado - a maioria das pessoas não tinha banda larga, a internet era discada, os navegadores eram outros, não tinha Google, não tinha Altavista."

Entendemos seu ponto, claro, mas em 2001 existia Altavista sim. Desde 1995 aliás.

pedro paulo disse...

Na realidade a Vírgula ficou fora do lugar o certo seria: "...os navegadores eram outros, não tinha Google não, tinha Altavista.

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